Nível – Básico
A obturação dos canais radiculares é um importante passo da terapia endodôntica, pois, por meio dela, tornamos plausível a possibilidade do isolamento das bactérias remanescentes no sistema de canais, impedindo-as assim de se proliferar e recolonizar a microanatomia interna do sistema. Dessa maneira, torna-se bastante improvável que as mesmas consigam alcançar o periodonto, provocando ou mantendo uma lesão periapical, ou quaisquer sinais e sintomas,
Tal importância desse passo demonstra-se grandiosa, quando passamos a conhecer o fato de que, independente das técnicas de instrumentação, irrigação e medicação intracanal, é impossível eliminar por completo a infecção do interior dentinário, a qual pode, dependendo das condições, recontaminar todo o sistema novamente, caracterizando o insucesso.
Sendo a obturação tão importante para a manutenção da desinfecção, esse passo deve ser muito bem executado, onde técnicas, materiais e instrumentais precisam ser adequados, para cumprirem três pontos importantes: facilidade, rapidez e qualidade. Convencionalmente, esse é um passo muito complicado do tratamento, e nem sempre resulta em grande satisfação para o dentista, apesar de todo o trabalho e tempo dispendidos em tal fase. Esse selamento do sistema de condutos deve ser feito de maneira que não demande muito tempo, que não seja muito difícil ou trabalhoso e, obviamente, que ofereça uma confiabilidade e qualidade no isolamento de todo o sistema, privando as bactérias remanescentes de qualquer possibilidade de sobrevivência, multiplicação e recolonização.
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Diversas técnicas têm sido aplicadas nessa fase do tratamento, sendo a condensação lateral, a mais utilizada dentre todas as disponíveis. Porém, a mesma, demanda muito treinamento e precisão técnica, para que ofereça uma qualidade confiável, além de necessitar de um certo tempo para ser executada. Mesmo assim, devido a baixa qualidade dos cones de guta-percha normalmente utilizados (o que prejudica sua plastificação), bem como devido à grande quantidade de cones que são necessários para o correto preenchimento do conduto, tais obturações podem permitir que espaços vazios permaneçam entre a dentina, o cimento, e os cones, mesmo após o término da mesma.
Na tentativa de facilitar, bem como melhorar a obturação do sistema, diversas técnicas têm sido estudadas e empregadas nas últimas décadas. Uma dessa técnicas é a Compressão Vertical Hidráulica do cone acessório, descrita por De Deus em 1979. Ela se baseia em um cone acessório de maior conicidade (0.04, 0.06, 0.08), quando comparado aos cones padrão (0.02), sendo utilizado como cone principal. Como o cone acessório possui maior aumento do diâmetro conforme se distancia da ponta, ele preenche todo o espaço do conduto nos casos de canais circulares, diminuindo a possibilidade de inserção de cones acessórios. Além disso, a conicidade aumentada dos cones, melhora a resultante de forças de condensação no sentido apical, facilitando o preenchimento das irregularidades pelo cimento obturador.
Após inserção do(s) cone(s) calibrado (s) com o cimento (duas vezes), a técnica resume-se em cortar os mesmos com um condutor de calor aquecido na embocadura do conduto, seguido de uma compressão única e contínua, no interior do terço cervical do conduto, durante 15 segundos, caracterizando a compressão hidráulica. Um ponto importante é que o corte inicial da guta deve ser feito no interior da embocadura, e a compressão, precisa penetrar alguns milímetros no interior do conduto, alcançando o terço médio do mesmo. Assim, podemos por padrão, inserir o condensador até alcançar 3 mm abaixo da junção amelo-cementária vestibular do elemento dental. Em um dente com coroa intacta, isso daria 11 ou mais milímetros, medidos a partir das cúspides em questão. A falta de profundidade no corte não permite a guta-percha plastifique, nem que as forças de compressão sejam exercidas nos terços médio e apical da obturação, o que pode comprometer drasticamente o preenchimento provocado tanto pela guta, como pelo cimento endodôntico. Após feita essa compressão por 15 segundos na altura correta, recomenda-se uma radiografia de “qualidade” para verificação do preenchimento do conduto e do forame (este último, pelo cimento). Em caso de insatisfação, pode-se repetir o procedimento de corte e compressão, porém dessa vez, penetrando mais profundamente no terço médio com condensadores mais delgados. Os condensadores mais indicados são os de Schilder, tamanhos 2, 3 e 4, além de um bom condutor de calor.


Caso os espaços no terço médio e cervical se apresentem exagerados, podemos trocar o cone de guta-percha por outro de conicidade maior, por exemplo um M por um ML.
Referências: